Mais uma vez, o IPCA-15 veio abaixo do estimado pelos economistas e analistas de mercado, com a análise qualitativa do indicador reforçando o processo de desinflação. Mas o indicador ainda não “devolveu” a piora anterior e o núcleo dos preços dos serviços continua em patamar muito elevado em relação à meta de inflação buscada pelo BC, alertam os especialistas.
O dado de junho divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira mostrou uma variação mensal de 0,26% – ante projeções acima de 0,30%. E a taxa anualizada no mês, de 5,27%, ficou bem abaixo dos 5,40% anteriores.

IPCA-15: prévia da inflação sobe 0,26% em junho, levemente abaixo do esperado
A expectativa do consenso Reuters era de alta mensal de 0,30% e avanço anual de 5,31%
Os bancos e as principais casas de investimentos já revisaram para baixo de inflação para o ano – ou estão em processo de revisão – para assimilar o novo patamar da variação anual de preços entre 5,2% e 5,3% (ante a média de 5,5% anterior). Mas nunca é demais lembrar que a meta buscada pelo BC é de um IPCA de 3% anuais, com tolerância de 1,5 ponto percentual. Ou seja, o IPCA-15 de junho ainda está 0,77 p.p. acima do teto.
“Chegamos ao terceiro índice de inflação da ‘família’ dos IPCAs a surpreender positivamente, não apenas no número, mas também na composição. Boa notícia? Sim. Motivos para alívio? Ainda não”, comentou Luis Otávio Leal, economista chefe da G5 Partners.
Ele destacou como ponto de atenção os chamado “Serviços subjacentes”, que refletem de forma mais fidedigna a pressão inflacionária do aquecimento da economia. “A situação é ainda mais preocupante, alta de 6,58%”, disse. “Para sair do buraco temos que parar de cavar e, os últimos ‘IPCAs’ dão uma esperança de que estamos chegando neste ponto, mas ainda há um bom caminho para que o buraco fique para trás”, completou.
Mesmo com mais uma surpresa positiva em junho, a G5 Partners mantém sua expectativa de que os juros fiquem estáveis em 15,00% a.a. até o final do ano. “Para o IPCA de julho, a nossa projeção preliminar é de uma alta ao redor de 0,20%.”
Na opinião de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, mesmo com a surpresa para baixo no mês, o cenário segue bastante desafiador para a inflação, especialmente quando são observados os núcleos de preços, que continuam muito pressionados. “A inflação de serviços subjacentes – categoria que exclui itens mais voláteis, como as passagens aéreas – ficou estável em 6,6% nos 12 meses até junho, um patamar bastante elevado.”
Segundo sua avaliação, ainda que a queda nos preços das commodities em reais esteja trazendo alívio para a inflação de alimentos e bens industriais, fatores domésticos, como o mercado de trabalho muito aquecido, devem continuar pesando sobre o índice geral. “Nossa projeção é de que o IPCA feche o ano em 5,3%, mas vemos possibilidade de uma alta menor, considerando as surpresas na inflação de maio e junho”, projetou.
Ela comentou ainda que, mesmo com recente alívio na inflação, é esperado que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha os juros estáveis em 15% por bastante tempo.
O Goldman Sachs também avaliou que o cenário de intensas pressões inflacionárias, expectativas de inflação de curto e médio prazo altamente desancoradas, hiato do produto positivo, mercado de trabalho apertado e medidas recorrentes de estímulo quase fiscal e de crédito exigem uma calibração conservadora da política monetária.
Hiato do produto positivo
Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, disse concordar com a visão de que, apesar do alívio pontual, as medidas qualitativas da inflação seguem do desejado. “A ata do último Copom manteve o tom ‘hawkish’ do comunicado, reforçando preocupações com a inflação persistentemente acima da meta e com expectativas desancoradas para os horizontes mais longos.”
Sung comentou que os preços de serviços seguem pressionados, refletindo uma economia que ainda opera com hiato do produto positivo. “Além disso, os núcleos de inflação têm se mantido, há meses, acima do nível compatível com o cumprimento da meta. Esses fatores, além da desancoragem das expectativas de inflação, justificaram a alta marginal da Selic e reforçam a sinalização de manutenção de uma política monetária contracionista por um período bastante prolongado”, defendeu.
No cenário base da Suno, a projeção para o IPCA de 2025 foi ajustada de 5,5% para 5,2%. “Mantemos a expectativa de que o índice inicie um processo de desaceleração a partir de agosto. Por outro lado, permanecem riscos altistas. Entre eles, destaca-se o possível acionamento da bandeira tarifária vermelha 2 nos próximos, a alta esperada nos preços das proteínas no segundo semestre e estímulos do governo”, disse.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, também alertou em sua análise que, apesar da inflação significativamente mais baixa, o IPCA segue acima do limite superior do regime de metas para a inflação fixado em 4,5% para o ano de 2025.
No caso dos serviços subjacentes, a economista destacou que, quando observados os dados trimestralizados, é possível um forte arrefecimento inflacionário nos itens que possuem uma rigidez bastante elevada nos preços e são muito importantes para a condução da política monetária. “O nível inflacionário, no entanto, ainda não é confortável para o Banco Central e sugere uma inflação de serviços sistematicamente acima da meta inflacionária de 3%. Mas a sua conversão na métrica trimestral não pode ser desconsiderada”, ponderou.
Ou seja, em linhas gerais, os dados corroboram a perspectiva de que a inflação de 2025 deve ser mais baixa do que o mercado imaginava há poucos meses. “Mas ainda assim, ela se mantém muito elevada e muito além do que é a meta inflacionária do Banco Central e não há perspectivas, pelo menos no curto prazo, de que ela convirja para abaixo do limite superior do regime de metas para a inflação ainda no ano de 2025.”
Já na opinião de Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, a inflação permanece acima da meta, mas o processo de desinflação tem se mostrado mais nítido. “Esse cenário deve permitir que o Banco Central mantenha a taxa Selic em 15,0% ao ano por um período prolongado, com espaço para retomar os cortes de juros a partir da reunião de janeiro de 2026.”
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