Thiago Marques, fundador da Hiper Saúde, conta que foi atrás de um novo propósito para a empresa em 2017, após uma inquietação pessoal que surgiu apesar dos bons resultados nos negócios. O estalo veio durante o atendimento a uma senhora em uma loja recém-inaugurada: “Ela me disse que, depois da chegada da nossa farmácia no bairro, conseguiu voltar a comprar o que gostava de comer. Foi ali que entendi que nosso papel era muito maior do que vender medicamentos”, relembrou o empresário em entrevista ao programa Do Zero ao Topo, conduzido por Mariana Amaro.
A cena o marcou de forma definitiva. “Ela vivia com dois irmãos, um especial e outro com dificuldades de locomoção. A renda era um salário mínimo. E foi a chegada da farmácia que possibilitou a ela um pouco de dignidade. Saí emocionado do balcão com a missão de mudar a saúde do Brasil”, disse Marques.
Daquele episódio em diante, ele convocou a equipe e redesenhou a missão da empresa. “Falei: ‘A nossa causa é com a saúde do nosso país. A gente vai continuar buscando lucro, mas ele será consequência de entregar acesso à saúde para quem mais precisa’.”
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Mudança na mentalidade
A mudança de mentalidade também teve impacto direto nos números. Com cerca de 1.100 farmácias conectadas atualmente e presença em todos os estados, a rede, que começou como RM Pharma, fechou 2023 com R$ 2,7 bilhões em faturamento. A projeção para 2024 é ultrapassar os R$ 3 bilhões. Até 2025, a expectativa é quase dobrar a base e alcançar cerca de 2 mil unidades. E até 2030, a meta é chegar a 5 mil.
Com forte atuação em cidades pequenas, onde grandes redes ainda não chegaram — como Paraguaçu, citada por Mariana durante a entrevista —, a Hiper Saúde aposta na força das farmácias independentes. “O nosso trabalho é fortalecer essas farmácias antes que as grandes cheguem. Dar a potência necessária para competir de igual para igual com qualquer rede corporativa”, afirmou.
Transformação com IA e foco no atendimento primário
Um dos grandes diferenciais, segundo Marques, foi a adoção de inteligência artificial nos processos internos. “A gente mergulhou nisso há dois anos. Mudamos o status quo da farmácia independente. O dono da farmácia deixa de se preocupar com tudo ao mesmo tempo — mix de produto, precificação, gestão — e volta a focar no cliente”, explicou.
A proposta é que a farmácia assuma um papel central no sistema de saúde, especialmente no atendimento primário. “Hoje temos duas farmácias para cada unidade básica de saúde no país. E tem cidade sem UBS, mas com farmácia. São cerca de 60 mil farmácias independentes em todo o Brasil. Elas são o primeiro ponto de contato com a população”, argumentou.
Com isso, a Hiper Saúde quer ampliar os serviços: “A gente acredita numa farmácia onde a prevenção é melhor que remediar. Temos até um projeto chamado ‘#DeixaComAGente’, onde assumimos a gestão para que o farmacêutico cuide das pessoas. É aquele farmacêutico de bairro, que conhece você pelo nome.”
De Minas à hipersaúde
A empresa nasceu em Minas Gerais como Minas Pharma. Quando começou a atuar fora do estado, virou RM Pharma. Mas foi o reposicionamento para “Hiper Saúde” que consolidou o novo momento.
“A marca Hiper Popular já estava com a gente. Fizemos um rebranding com uma consultoria e eles sugeriram uma marca que já era nossa: Hipersaúde. Acreditamos que a farmácia é o lugar onde as pessoas vão se cuidar mais. Não é só ir buscar o remédio, nem um shopping. É um ponto relevante de cuidado com as pessoas.”
Marques, que começou a trabalhar ainda jovem e passou pela indústria farmacêutica antes de empreender, enxerga agora uma missão de longo prazo. “Lucro é importante, claro. Mas o que move a gente é ver as pessoas tendo acesso à saúde com dignidade.”I
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