Entrou em vigor a tarifa de importação de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, conforme anunciado pelo presidente Donald Trump no dia 9 de julho. Embora quase 700 itens tenham sido incluídos numa lista de exceções divulgada na semana passada pela Casa Branca, cerca de metade das exportações brasileiras aos Estados Unidos será afetada pelas tarifas.
O governo brasileiro considera que ainda há espaço para negociação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera se reunir com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na próxima semana. Mas o espaço para incluir mais produtos na lista de exceções pode ter ficado menor após a prisão do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Logo após a prisão de Bolsonaro, na última segunda-feira, o governo americano reagiu publicamente no mesmo dia. Em uma postagem nas redes sociais, o Escritório do Departamento de Estado acusou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de violar os direitos humanos. Na carta em que anunciou a sobretaxa de 50%, no início de julho, Trump relacionou a sua decisão às decisões do STF envolvendo Bolsonaro.
Pelo menos metade das exportações agrícolas para os Estados Unidos serão sobretaxadas a partir desta quarta-feira, segundo dados do Ministério da Agricultura — o cálculo desconsidera a exportação de produtos florestais.
Veja como o tarifaço afeta os principais produtos da pauta exportadora agrícola aos EUA:
CAFÉ – A partir de hoje, o café brasileiro começa a pagar uma tarifa de 50% para entrar nos Estados Unidos. A ausência do café da lista de exceções surpreendeu os produtores brasileiros devido à elevada dependência dos EUA do café brasileiro. Cerca de um terço de todo o café consumido nos EUA vem do Brasil, que garante ao blend americano o sabor que os americanos estão acostumados.
Certamente os consumidores vão sentir no bolso, mas os exportadores brasileiros também devem ser impactados, pelo menos no curto prazo. Como há uma escassez de café arábica no mundo – o Brasil representa mais de 40% da produção global —, a produção encontrará outros destinos mais cedo ou mais tarde.
A China, onde o consumo de café tem apresentado forte crescimento nos últimos anos, habilitou 183 exportadores para acessar o mercado chinês após o anúncio da tarifa de Trump. Resta saber se os volumes – e principalmente, os valores das importações – serão semelhantes aos pagos pelos norte-americanos.
A estratégia dos exportadores brasileiros tem sido trabalhar com a National Coffee Association para mostrar ao governo dos Estados Unidos que o café brasileiro não tira emprego dos americanos, e sim adiciona.
Segundo estudo da entidade americana, que representa as torrefadoras dos EUA, cada US$ 1 importado de café gera US$ 43 na economia americana. O café gera 2,2 milhões de empregos e representa 1,2% do PIB americano, de acordo com o mesmo estudo.
CARNE BOVINA – Com os 50% que começam a valer hoje, a carne bovina brasileira pagará uma tarifa de 76,5% para acessar o mercado norte-americano, o que praticamente inviabiliza as exportações. Segundo a associação dos exportadores de carne bovina (Abiec), os volumes que deveriam ser enviados aos EUA no segundo semestre equivalem a US$ 1 bilhão.
A expectativa da entidade é que os embarques aos EUA dobrassem este ano, para 400 mil toneladas, consolidando o país de Trump como segundo principal importador da carne bovina brasileira, atrás apenas da China.
Na semana passada, o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, afirmou durante o Raiz do Negócio, programa realizado pelo InfoMoney em parceria com The AgriBiz, que ainda acredita que o governo brasileiro possa avançar nas negociações com Trump. Assim como a indústria do café, os exportadores de carne do Brasil continuam trabalhando no lobby para reverter a medida.
Enquanto isso, cresce a pressão de empresas de food service para que Trump volte atrás. Na semana passada, a Associação Nacional de Restaurantes dos EUA enviou uma carta ao governo americano em que afirma estar “extremamente preocupada” com as novas tarifas, segundo informações da Reuters.
SUCO DE LARANJA – O suco de laranja concentrado e congelado do Brasil entrou na lista de exceções de Trump. Com isso, o produto será taxado em apenas 10%, como havia sido anunciado em abril. A Casa Branca cedeu à pressão de importadores, que argumentaram que não há substituto para o suco de laranja do Brasil, que tem uma participação de 90% no comércio mundial. Havia um risco, portanto, de desabastecimento e até de desemprego nos Estados Unidos.
PEIXES E FRUTOS DO MAR – Mais da metade das exportações brasileiras de peixes e frutos do mar é destinada aos Estados Unidos, segundo o Ministério da Agricultura. Pelo menos 58 contêineres — o equivalente a mais de 1.000 toneladas de pescados — perderam seus compradores após o anúncio das tarifas, de acordo com a Abipesca, associação que representa os exportadores do setor. Tilápia e lagosta estão entre os produtos mais ameaçados. Produtores pediram apoio do governo com a entrada em vigor das tarifas.
FRUTAS – Afetadas pela sobretaxa, manga e uva são as principais frutas exportadas aos Estados Unidos, com uma participação de cerca de 50% do total. Produtores afirmam que há risco de as frutas apodrecerem sem a possibilidade de substituir os Estados Unidos facilmente. Eles também têm pedido suporte ao governo.
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