As tarifas anunciadas pelos Estados Unidos ao Brasil, que podem entrar em vigor no começo de agosto, são uma preocupação ao agronegócio nacional — podendo gerar reflexos nas carteiras dos Fiagros.
No entanto, o momento exige cautela, e o investidor deve avaliar com atenção quais carteiras estão mais expostas a commodities com menor flexibilidade de redirecionamento no mercado externo, além de identificar os segmentos do agro mais vulneráveis aos efeitos das tarifas.
No programa Liga de FIIs, do InfoMoney, que vai ao ar nesta quarta-feira (18h), Felipe Greco, gestor dos fundos agro da Kinea, explica que algumas empresas estão buscando antecipar exportações para fugir de eventual taxação. “Isso é uma mudança importante. As empresas têm planejamento, orçamento, e são obrigadas a reagir rapidamente. Algumas fizeram uma verdadeira operação de guerra para antecipar exportações que estavam programadas para agosto, setembro e outubro”, afirma.
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A carteira da Kinea, segundo Greco, está majoritariamente exposta a empresas exportadoras — cerca de 80% — com presença global, mas com atuação diversificada, o que atenua os impactos.
Entre os setores que podem ser mais afetados estão papel e celulose, citricultura, fruticultura e proteínas animais. “O nível de preocupação existe, mas é baixo porque investimos em empresas com décadas de atuação. São companhias que já passaram por ciclos de tarifas, questões climáticas e crises de preço. Elas têm ferramental para navegar esse curto prazo”, reforça.
Do ponto de vista estratégico, o redirecionamento das exportações também está no radar. “Parte do fluxo está sendo direcionada para outras geografias, com o objetivo de minimizar os efeitos de curto prazo. Para o médio e longo prazos, acreditamos que haverá algum tipo de acomodação ou negociação bilateral por segmento”, diz Greco. Ele cita o caso da citricultura: “Cerca de 80% do suco de laranja consumido nos EUA vem do Brasil. Falar em acabar com esse fornecimento é bastante improvável”.
Agronegócio representa quase 25% do PIB
Tiago Reis, sócio-fundador da Suno, lembra que o agronegócio representa quase 25% do PIB e reúne uma diversidade de cadeias produtivas. Por isso, os impactos das tarifas serão diferentes em cada segmento.
Nos Fiagros da Suno, a exposição está mais concentrada no setor de grãos, que, segundo ele, não deve ser afetado. “Os EUA são autossuficientes em grãos. O crescimento das exportações brasileiras foi para a Ásia, especialmente China”, explica.
Já setores como café e suco de laranja exigem atenção. No caso do café, Reis acredita que os efeitos devem ser limitados. “É um mercado com logística mais simples, com exportação muito diversificada e forte capacidade de estocagem. Se os EUA comprarem menos do Brasil, outros países como Colômbia e Vietnã ocupam esse espaço, enquanto o Brasil redireciona sua produção”, compara.
A situação é mais delicada para o suco de laranja, devido à dependência mútua entre Brasil e Estados Unidos. “É um setor com uma grande interrogação. Não é um produto estratégico, então pode haver pressão do lado americano. Mas também é difícil imaginar que vão deixar de tomar suco de laranja”, analisa.
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Para os investidores de Fiagros, o recado é claro: é preciso entender o grau de exposição dos fundos a cadeias exportadoras sensíveis às tarifas e acompanhar de perto os desdobramentos das negociações comerciais. Embora o impacto imediato seja limitado em muitas carteiras, o risco geopolítico passa a ter peso maior na análise — especialmente para fundos mais concentrados em segmentos como proteínas, frutas e derivados cítricos.
Confira a entrevista completa – e mais dicas – de Felipe Greco e Tiago Reis na edição desta semana do Liga de FIIs. O programa vai ao ar todas as quartas-feiras, às 18h, no canal do InfoMoney no Youtube. Você também pode rever todas as edições passadas.
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