A decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de fixar em até 6,06% o reajuste anual dos planos de saúde individuais e familiares no Brasil, válida entre maio deste ano e abril de 2026, não surpreendeu os analistas porque veio dentro das expectativas do mercado e acompanha o movimento de desaceleração dos últimos anos, após altas mais acentuadas registradas em 2023 e 2024.
Para o Itaú BBA, o reajuste está alinhado com o que o mercado já antecipava, uma vez que os componentes do cálculo, como a variação dos custos assistenciais, inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e os ganhos de eficiência do setor, já eram conhecidos. Na análise dos especialistas do banco, esse percentual mantém a trajetória observada nos últimos dois anos, em que as operadoras vêm recuperando sua rentabilidade após períodos de forte pressão sobre custos.
O Goldman Sachs também vê o índice como esperado e dentro da faixa projetada de 6% a 7%. O banco americano disse que o reajuste é menor que o autorizado ano passado, de 6,91%, e bem abaixo do patamar de 9,63% de 2023. No entendimento dos analistas, o percentual aprovado pela ANS aponta a desaceleração dos custos médicos após os efeitos mais agudos da pandemia e o período de retomada da demanda por serviços de saúde.
O relatório do Goldman Sachs detalha que o cálculo do reajuste segue uma metodologia que combina o Índice de Valor das Despesas Assistenciais (IVDA), que mede a variação dos custos médicos e hospitalares por beneficiário, com peso de 80%, e o IPCA excluindo o item saúde, que representa os outros 20%. Segundo o banco, essa fórmula ajuda a entender o comportamento dos custos reais do setor, excluindo eventuais duplicidades no impacto da inflação.
No entanto, os analistas chamam atenção para a diferença no peso dos planos individuais na composição das operadoras. Na Hapvida (HAPV3), os contratos individuais representam cerca de 18% da base de beneficiários, enquanto na SulAmérica essa fatia é de aproximadamente 4%, desconsiderando contratos de administração de serviços (ASO). Isso faz com que a decisão da ANS tenha relevância distinta para cada empresa.
A avaliação do Goldman Sachs é que, no caso da Hapvida, a definição do índice não altera de forma relevante a tese de investimento, que continua ancorada na melhoria de margens operacionais, na integração da operação da NDI em São Paulo, na redução de contingências judiciais e no avanço da eficiência em despesas administrativas (SG&A, na sigla em inglês).

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O relatório também observa que a empresa tem aplicado reajustes bem mais elevados em outros segmentos, como planos corporativos e para pequenas e médias empresas (PMEs), onde há mais flexibilidade para negociação de preços.
O Itaú BBA, por outro lado, diz que o reajuste aprovado segue a mesma dinâmica observada nos aumentos aplicados aos planos coletivos por faixa etária, que já vinham sinalizando um movimento mais moderado. Para o banco, a decisão da ANS é espelhada pela recuperação das margens das operadoras, que foram fortemente pressionadas no período pós-pandemia.
Percentual, lucro no setor e recomendação
O percentual de 6,06% aprovado pela ANS é o menor desde 2021, quando houve um reajuste negativo de 8,19% devido à queda na utilização dos serviços médicos durante as restrições da pandemia. Se desconsiderado esse ano atípico, a taxa aprovada agora é a menor desde 2008, quando o índice ficou em 5,48%.
Os planos individuais e familiares representam 16,5% dos contratos de assistência médica no Brasil, segundo dados de abril da ANS, o equivalente a 8,6 milhões de beneficiários. As operadoras costumam argumentar que o aumento dos custos está ligado à incorporação de novas tecnologias, ao envelhecimento da população e à maior utilização dos serviços.
No primeiro trimestre deste ano, as operadoras de saúde registraram lucro líquido de R$ 6,9 bilhões, mais do que o dobro do mesmo período de 2024, quando somaram R$ 3,1 bilhões. Esse desempenho financeiro reforça, na visão dos analistas, que o setor atravessa um momento de recomposição de resultados, após anos de maior pressão sobre custos e margens.
O Goldman Sachs mantém preço-alvo de R$ 63 para as ações da Hapvida, com base em um modelo de fluxo de caixa livre para a firma (FCFF) de 10 anos, utilizando um custo Médio Ponderado de Capital (Wacc) de 13,5% e uma taxa de crescimento na perpetuidade de 4,5%. O banco alerta que, entre os riscos para o setor, estão uma possível deterioração macroeconômica, aumento do desemprego, atrasos na integração de operações e alta inesperada nos custos médicos.
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