O mundo pode estar à beira de um novo choque energético. Em meio à escalada militar entre Irã, Israel e Estados Unidos, o Parlamento iraniano aprovou neste domingo (22) uma resolução para fechar o Estreito de Ormuz — a mais estratégica rota de escoamento de petróleo do planeta. A medida ainda depende do aval do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, mas já eleva a preocupação com a reação dos mercados e os preços do petróleo.
Apenas nos últimos dias, o valor do barril de crude atingiu o maior patamar dos últimos cinco meses, com o Brent negociado próximo aos US$ 55. Analistas alertam que, caso a ameaça se concretize, o barril pode ultrapassar os US$ 100, pressionando cadeias produtivas em escala global.

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Estreito vital: 1,5 bilhão de dólares por dia
Por Ormuz passam diariamente mais de 20 milhões de barris de petróleo, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o que representa cerca de 27% do comércio marítimo mundial de petróleo e quase um quarto do fornecimento global. A via conecta o Golfo Pérsico ao Mar de Omã e separa o Irã de países como Omã e Emirados Árabes Unidos.
Esse volume representa cerca de US$ 1,5 bilhão por dia em circulação, com impacto direto nas importações energéticas de países como Japão (80%), Coreia do Sul (84%), China (42%) e até Europa (25%).
Traders divididos: tensão com Israel e EUA gera volatilidade
A ameaça do Irã ocorre em resposta direta aos bombardeios realizados pelos EUA no sábado (21), que atingiram três instalações nucleares iranianas. Teerã afirmou que só manterá a liberdade de navegação em Ormuz se seus interesses estratégicos não forem ameaçados.
Apesar da retórica dura, o mercado de petróleo teve queda nesta segunda-feira (23), depois de ter subido na sexta anterior. A oscilação revela a incerteza dos traders, que apostam que o fluxo ainda continuará, ao menos por ora, mesmo com o aumento da hostilidade entre as potências envolvidas.
Histórico de ameaças, mas sem bloqueios efetivos
Essa não é a primeira vez que o Irã ameaça interditar Ormuz. A retórica já foi usada em momentos de tensão, como durante a guerra Irã-Iraque nos anos 1980, mas nunca se concretizou totalmente. A dificuldade logística e o risco de retaliação militar — especialmente pelos EUA, que mantêm presença naval na região — atuam como fatores de contenção.
Ainda assim, especialistas alertam que o atual contexto é diferente. O ataque direto a instalações nucleares e a aprovação legislativa do bloqueio são sinais de que o Irã pode estar disposto a cruzar linhas vermelhas.
Efeitos colaterais: energia, inflação e cadeias de suprimento
Caso o bloqueio se confirme, o impacto seria imediato nos preços dos combustíveis — da gasolina e do diesel ao gás e à eletricidade. A cadeia produtiva sofreria choques similares aos registrados durante a pandemia e após a invasão da Ucrânia pela Rússia, elevando custos logísticos, alimentos e inflação no mundo todo.
A Europa, que já buscava alternativas ao gás russo, veria uma nova pressão energética. Países asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, fortemente dependentes de petróleo do Golfo, também seriam afetados de forma severa.
Alternativas: shale oil e Opep sob pressão
Com a possibilidade de interrupção em Ormuz, cresce a expectativa de que os EUA voltem a investir na produção de petróleo não convencional (shale oil), que ficou estagnada nos últimos anos por conta da baixa rentabilidade. Com preços em alta, novos campos de xisto poderão ser reativados.
Outro caminho seria a ampliação da produção por outros países fora do Golfo Pérsico, como Brasil, EUA, Canadá e Venezuela — embora isso leve tempo e dependa de infraestrutura adequada.
O que vem a seguir
Enquanto a decisão final aguarda o aval do líder supremo iraniano, os mercados globais entrarão em modo de vigilância máxima. O governo dos EUA, por sua vez, já iniciou consultas com aliados da Opep e com a União Europeia para conter possíveis choques de oferta.
Mesmo que a ameaça não se concretize, o simples risco de fechamento de Ormuz já reconfigura o cenário energético global, elevando incertezas, fortalecendo o dólar e pressionando políticas monetárias em países importadores de petróleo.
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