A morte do Papa Francisco foi muito impactante para mim. Estava em Roma quando, ao acessar a internet pela manhã, me deparei com a notícia do falecimento de Francisco. No dia anterior, Domingo de Páscoa, ele ainda estava lá — diante de mais de 30 mil fiéis, celebrando a missa em frente à Basílica de São Pedro.
Mesmo debilitado e quase sem voz, concedeu sua bênção e despediu-se em silêncio. A notícia de sua morte me comoveu profundamente. Tive, nos últimos anos, a oportunidade de encontrá-lo pessoalmente em diversas ocasiões, durante eventos da Pontifícia Academia de Ciências Sociais. Em muitos desses encontros, levei mensagens da Amazônia e conversamos sobre a região — por quem ele nutria um carinho evidente e especial
É difícil resumir o legado do Papa Francisco para a humanidade. Ao todo o Papa publicou três encíclicas e seis exortações apostólicas.
Seus ensinamentos podem ser agrupados em cinco grandes temas:
- (i) ecologia integral,
- (ii) dignidade humana e justiça social,
- (iii) fraternidade e cultura do encontro,
- (iv) igreja em saída e misericórdia, e
- (v) conversão e esperança.
Exploro aqui aspectos do seu pensamento sobre uma nova economia.
Os pronunciamentos e documentos do Papa Francisco têm influenciado fortemente o debate global sobre justiça econômica, sustentabilidade e dignidade humana. Sua crítica ao atual sistema econômico e o apelo por uma ‘Economia de Francisco’ apontam para um modelo que coloca a vida, os pobres e o planeta no centro das decisões.
Francisco critica o modelo econômico atual baseado no neoliberalismo desregulado como sendo uma estrutura que exclui, degrada e mata. Em documentos como Evangelii Gaudium, Laudato Si’ e Fratelli Tutti, ele aponta que o crescimento econômico sem equidade leva à marginalização social e à destruição ambiental. Para ele, uma economia que mata pessoas, culturas e o planeta é inaceitável.
Em 2019, o Papa convocou economistas e empreendedores para criar a ‘Economia de Francisco’, uma iniciativa global com foco na reconstrução de um sistema econômico mais justo, inclusivo e sustentável. A proposta valoriza a ética, a solidariedade, o cuidado com a criação e a participação comunitária.
Os princípios para a nova economia defendida pelo Papa incluem seis eixos:
- (i) centralidade da pessoa,
- (ii) cuidado com a criação,
- (iii) justiça distributiva,
- (iv) trabalho digno,
- (v) solidariedade intergeracional e
- (vi) participação local.
Trocando em miúdos, a economia deve servir ao ser humano, e não o contrário. A produção e o consumo devem respeitar os limites ecológicos do planeta. É necessário combater a desigualdade e garantir acesso justo aos recursos. O trabalho é um direito humano fundamental e fonte de dignidade. Devemos preservar os recursos para as futuras gerações. As decisões econômicas devem incluir os mais pobres e os povos tradicionais.
A visão econômica de Francisco inspira ações concretas como o fortalecimento da economia circular, das finanças éticas, da agricultura sustentável, do empreendedorismo social, do manejo sustentável de ecossistemas naturais e da inclusão produtiva. Essas práticas ajudam a construir um modelo que respeita tanto a dignidade humana quanto os limites ecológicos.
Os ensinamentos de Papa Francisco oferecem uma base ética e espiritual para a construção de uma nova economia. Ao unir justiça social, cuidado ambiental e protagonismo dos excluídos, sua proposta representa um caminho viável e urgente para responder às crises do nosso tempo, especialmente as mudanças climáticas.
É nossa responsabilidade revisitar os ensinamentos de Francisco e promover um esforço coletivo global por uma nova economia. Precisamos de coragem para enfrentar os grandes interesses ligados à indústria de combustíveis fósseis que financia o negacionismo das mudanças climáticas e somar forças em torno de uma agenda baseada na ciência, na ecologia integral e na justiça social.
Só assim estaremos, de fato, honrando aquele que se tornou o maior líder da humanidade neste século.
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