A equipe responsável pela $LIBRA – criptomoeda promovida pelo presidente da Argentina, Javier Milei, no final da semana passada – “roubou” US$ 107 milhões do projeto após um suposto “rug pull” – um tipo de golpe financeiro –, segundo dados da plataforma Lookonchain, deixando os investidores no prejuízo. O montante é 4% superior a todas as perdas registradas em 2024 por esse tipo de esquema, de acordo com um relatório recente da empresa de segurança blockchain SlowMist.
No rug pull, golpistas lançam uma nova criptomoeda e investem pesado em marketing para atrair investidores, geralmente com o apoio de celebridades e influenciadores. Depois que o projeto ganha tração e o preço do ativo digital dispara, os criadores vendem suas participações, embolsam os lucros e desaparecem, deixando os investidores com ativos sem valor.
Em 2024, a SlowMist registrou 58 rug pulls, totalizando US$ 106 milhões em perdas. O ecossistema zkSync, uma solução de segunda camada do Ethereum (ETH), foi o mais afetado, com prejuízos de US$ 36,95 milhões, enquanto a Binance Smart Chain, blockchain da exchange Binance, teve o maior número de casos: 28 no total.
Importante notar, no entanto, que esse tipo golpe representou apenas 14,1% das perdas no mercado cripto no ano passado. Quando se incluem outras formas de fraudes e problemas de segurança – como malware, vazamento de chaves privadas, scams, entre outros –, os prejuízos somam mais de US$ 2 bilhões, segundo a SlowMist.
O caso $LIBRA
Na sexta-feira (14), Milei promoveu a criptomoeda no X (antigo Twitter), afirmando que o token tinha o objetivo de “estimular o crescimento econômico e financiar pequenos negócios”. A $LIBRA chegou a atingir US$ 4,5 bilhões em valor de mercado após a publicação. Algumas horas depois, porém, o presidente apagou o post, alegando que não estava ciente dos detalhes do projeto e que decidiu não continuar divulgando após tomar conhecimento da iniciativa.
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O estrago, no entanto, já estava feito. O valor de mercado da criptomoeda despencou 92%, caindo para US$ 343 milhões, segundo dados da plataforma DexScreener. A empresa de análise Bubblemaps identificou que 83% do fornecimento do token estava concentrado em poucas carteiras, sugerindo que os criadores controlavam a maior parte da oferta.
A $LIBRA foi criada pelo empresário Hayden Davis, fundador do projeto KIP Protocol, responsável pelo token. Em entrevista ao investigador de mercado cripto conhecido como Coffeezilla, Davis confirmou que a equipe manipulou o lançamento da criptomoeda. Ele revelou que havia pessoas com informações privilegiadas e que US$ 100 milhões foram mantidos em carteiras do próprio projeto para controlar a liquidez e lidar com os snipers – bots que compram tokens automaticamente no lançamento para revendê-los rapidamente.
Davis também afirmou, no entanto, que as perdas foram amplificadas pela decisão de Milei de apagar o post promovendo o projeto. “Essa retirada abrupta do apoio, sem aviso prévio, afetou diretamente a garantia da moeda”, disse ele. O empresário já esteve envolvido no lançamento da memecoin associada à ex-primeira-dama dos EUA, Melania Trump, segundo a Bubblemaps.
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Repercussão
O caso gerou uma forte reação política na Argentina. A oposição chegou a cogitar um pedido de impeachment contra Milei. “Esse escândalo, que nos envergonha em escala internacional, exige que apresentemos um pedido de impeachment contra o presidente”, declarou o deputado Leandro Santoro, membro da coalizão opositora.
Advogados consultados pela agência Associated Press (AP) afirmaram que Milei pode ter cometido crimes como associação ilícita e fraude. O presidente já responde a mais de 100 processos na Justiça argentina, segundo levantamento do site Infobae.
O próprio governo abriu uma investigação sobre o lançamento da criptomoeda. Milei anunciou em suas redes sociais que concederá uma entrevista sobre o caso na noite de hoje.
“O recente escândalo de ‘rug pull’ de $LIBRA envolvendo o presidente argentino Javier Milei diminuiu ainda mais o sentimento em torno de altcoins (termo para identificar qualquer cripto diferente do Bitcoin) e memecoins (criptomoedas baseadas em memes ou piadas)”, escrevaram analistas da empresa cripto QCP Capital.
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